sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

velha do barranco

Accept certain inalienable truths: prices will rise, politicians will philander, you too will get old. And when you do, you'll fantasize that when you were young, prices were reasonable, politicians were noble and children respected their elders.
Respect your elders.
Sabe, eu fui ao hospital visitar minha avó. Ela quebrou o fêmur [ui!] e minha mãe e tias têm se revezado para cuidar dela. Fomos eu, minha irmã e minha mãe; elas - irmã e mãe - discutindo em tom brincalhão de conversa pra ver quem ficaria lá de noite, para ajudá-la; eu, só ouvindo. Além de não querer ficar lá, tinha algumas coisas pra fazer em casa. Mas fui visitá-la.
Minha avó tem 73 anos. Cinco filhas, mais um filho adotado. Meu avó morreu quando minha mãe, a filha mais nova, tinha sete anos. Família grande e de interior, nada foi fácil para ela. Mas ela nunca desistiu.
Agora, minha mãe e tias, que estudaram mais que a minha avó, têm uma situação de vida melhor do que tiveram na infância e eu vejo nitidamente o esforço delas para dar à mim, minhas irmãs e meus primos, uma vida melhor do que elas mesmas tiveram.
Mas às vezes me esqueço de que nada acontece por acaso [uma das minhas verdades incontestáveis] e que se tudo não tivesse acontecido da maneira que aconteceu, talvez eu não tivesse tanto sorte quanto - devo reconhecer - que tenho.
E só lá, no hospital, olhando para minha avó na cama, é que eu me lembrei de pensar nisso. Em como ela é valente e exemplo de vida. Só lá eu me lembrei de jogar fora aquela idéia esdrúxula que, - e por mais que eu diga que "não, não era isso" - creio, sempre estar por trás dos meus atos: a idéia de que ser jovem é bom e achar que eu vou ser jovem pra sempre e, por isso, às vezes ser impaciente com a minha avó.
Só lá eu me dei conta de que até agora eu fiz tudo errado. Só lá eu percebi o quanto eu me lamentaria se de repente ela fosse embora e eu não tivesse sido legal com ela como eu sou com meus amigos. Só lá eu percebi que sou idiota. Jovem e idiota.

Mas nunca é tarde para mudar. Ela pediu que eu ficasse lá com ela, junto com a minha mãe, e eu não hesitei. Fiquei lá cuidando dela o quanto pude, da melhor maneira que pude, com os melhores e mais felizes pensamentos que tinha e rezando pra ela melhorar logo, pra eu poder cuidar dela por zelo e não por necessidade - seria melhor assim.
Fiz o meu melhor até eu começar a passar mal de madrugada... Mas o que vale é a intenção. E só aquele tempo em que estive ali, cuidando dela e me dando conta de tudo isso, foi mais do que valioso. Foi necessário.
Eu estava precisando de um chacoalhão.
Pra me dar conta de que eu estava sendo idiota, egoísta e cega - jovem demais, praticamente uma criança. Mas nunca é tarde para mudar.

[Te amo, vó.]

Ps: Antes de ir embora, me sinto na obrigação de explicar o título do post; para não parecer grosseira.
Minha avó morava numa casinha solitária que ficava no alto de um barranco e "velha do barranco" foi o apelido delicado e carinhoso que meus primos deram à ela. Meus primos.

Pronto, é isso.