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Falar das coisas do coração nunca é algo fácil.
Não o é por não ser fácil de explicar, por não ser fácil de entender.
O que acontece é que cabeça e coração não trabalham em conjunto e muitas vezes as coisas acabam se misturando. E digo que não é fácil falar sobre o que se sente porque o quanto a cabeça ou o coração interferem no nosso jeito de agir ou de pensar muda muito de pessoa para pessoa.
Entorpecente.
O amor, sejá lá o que for, nos entorpece. É como se estivessémos embriagados, como se todos os movimentos fossem feitos de uma lerdeza graciosa e o resto do mundo fosse apenas um mero detalhe.
Talvez por isso alguns tenham medo de amar e muitos que amam acabam se machucando.
Sendo um bêbado, é muito fácil não perceber quando é hora de ir embora. Considerando que a embriagez faz com que não nos aguentemos nas nossas próprias pernas, perdemos a noção de quando estamos juntos por amor e quando estamos juntos simplesmente porque nos habituamos a estarmos juntos.
É fato que quando nos apaixonamos, aceitamos nos doar para a outra pessoa, a abrir exceções; mas perdidos no nosso delírio, somos incapazes de distinguir quando "nos doar" e "abrir exceções" se torna "abdicar à tudo que gostamos e somos".
Perdemos nossa identidade e, depois, de volta à nossa plena consciência, não sabemos dizer onde.
Não digo que não deveríamos nos apaixonar e sim que devemos nos manter sóbrios mesmo apaixonados.
A principal coisa a fazer é querer ficar sóbrio; não o tempo todo, apenas o tempo necessário para sabermos se é amor ou apenas uma necessidade insana sabe-se lá do quê.
Para quem não sabe onde encontrar a tal sobriedade, digo que ela se encontra a apenas alguns passos de nós: é necessário se distanciar da situação para saber se nós mudamos pela outra pessoa; se desistimos de sermos nós para a fazermos feliz.
E mais do que qualquer outra coisas, é necessário ter coragem; coragem de encarar as coisas como são mesmo sabendo que elas podem não ser do jeito que gostaríamos.
Precisa-se ter em mente que nada, absolutamente nada, acontece por acaso; que tudo tem o seu ponto positivo (ainda que não seja bem aquele que queremos); e que nada dura mais do que tem que durar. Por mais que queiramos.
Definitivamente, não é qualquer um que tem a coragem necessária para abrir os olhos e aceitar as coisas como elas são, independente se vamos ficar felizes com o resultado e correr para o abraço ou se vamos nos dar conta de que é hora de ir embora - e ir embora.
Há uma linha que separa o que é do que já foi e quando se pisa nela é hora de ir embora. É hora de assumir que as coisas não são como antes, que o tempo ou a falta de vontade ou qualquer outra coisa fez o especial tornar-se comum e cotidiano.
Talvez se tente recuperar aquela época que muitas vezes não está tão distante. Talvez se consiga recuperá-la, talvez não. O fato é que preciso ser sensível o suficiente para perceber que nem tudo é pra sempre e não se pode ter medo de mudar. De começar de novo, de tentar outra vez.
Coragem.
Amor.
[Sempre.]