passado
Chovia muito. E era engraçado como eu sentia cada esbarrão naquela calçada.
Andando reto, rumo à não sei bem onde mas que ficava bem longe dali, as pessoas não me viam e quando esbarravam em mim, derrubavam meus pedaços no chão. E eu não ia buscá-los; ia ficando (mais) pequena, fraca e incompleta. Sentia o mundo desabar e eu desabava com ele, sem me importar em me deixar ali, permitindo que qualquer um que quisesse levasse embora as partes que até então eram as mais importantes e faziam com que eu me sentisse inteira. Ainda que me deixando pelo caminho, seguia em frente sem hesitar e me importar em me recolher. Minha única preocupação era levar o que sobrasse embora.
E depois que amanhaceu, que o sol foi e voltou e eu estava calma e descansada, eu me inventei de novo. Me fiz completa, ainda que diferente; aquelas partes que antes eram importantes e cuja ausência me fazia sentir vazia, já não existiam mais e eu me questionava se um dia existiram ou foram obra da minha imaginação. Qualquer outra coisa havia ocupado o lugar delas. E todo aquele temporal no qual eu me afogava sem estar molhada havia acabado. Eu já tinha fôlego suficiente para começar tudo de novo. Mais uma vez.
A fé que você deposita em você e só.