outras palavras
Mate o mosquito!
E, se possível, mate também o passado insano - insano banhado em alguns goles de álcool - que lhe condena.
É, isso mesmo. Bata palmas, bata com um pano, bata com um martelo, com uma marreta ou com o que estiver mais perto. Se ele estiver mal e caído no chão, pise com a toda a sua força, chute para bem longe, dê-lhe um nó com o próprio corpo. Afogue, jogue água quente, coloque no forno, congele, faça dele um bonequinho de voodoo ou uma cobaia, onde você pode tentar colocar seus primeiros piercings. Se ainda assim você não estiver satisfeita, jogue-o de um penhasco, grite na orelha dele até o nariz sangrar (!), mande-o passear no inferno - ou na água da privada, se esta estiver mais perto. Depois... Bom, depois é só ir dormir tranquila e rezar, para um deus que eu não sei se existe, para que tudo isso seja mais do que um sonho.
Mas como eu acho que não dá para sacrificar nosso próprio passado, sacrifiquemos então os mosquitos - que, por acaso, são o passado - e chamemos os melhores amigos para vê-lo se fuder conosco.
Porque se não der certo, ao menos rendeu boas risadas.
"O Mosquito", de Vinícius de Moraes.
O mundo é tão esquisito:
Tem mosquito.
Por que, mosquito, por que
Eu . . . e você?
Você é o inseto
Mais indiscreto
Da Criação
Tocando fino
Seu violino
Na escuridão.
Tudo de mau
Você reúne
Mosquito pau
Que morde e zune.
Você gostaria
De passar o dia
Numa serraria —
Gostaria?
Pois você parece uma serraria!