segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

outras palavras

"Outras palavras" porque não são minhas (e eu acho "outras palavras" mais legal do que "palavras de outros", tá?! [risos]).
Hoje as que colocarei aqui pertencem ao filme Boa Noite e Boa Sorte - muito bom, aliás.

Ambientado na década de 50, no auge da Guerra Fria, o filme fala sobre a perseguição que o senador McCarthy fazia a toda e qualquer pessoa que mostrasse simpatia pelo comunismo. Todo mundo denunciava todo mundo e nem sequer precisavam de provas para isso; para ser acusado de "comunista em potencial", bastava questionar os métodos de McCarthy. É aí que entra um jornalista, Edward Murrow fazendo frente a esse senador lunático - que, na minha opinião, lembra o George Q.I. baixo bossal Bush.
O filme começa e termina com Murrow fazendo um discurso fodíssimo, que é o que eu colocarei aqui.

"O que eu vou dizer não deve agradar a ninguém. No fim, algumas pessoas talvez acussem esse repórter de cuspir no próprio prato e a organização talvez seja acusada de acolher idéias hereges, perigosas.
Mas a completa estrutura das redes de televisão, publicidade e patrocinadores não será abalada ou alterada.
É meu dever usar de certa franqueza para falar com vocês, mensageiros, sobre o que está acontecendo no rádio e na televisão.
Se o que eu digo tem um responsável, saibam que o único responsável pelas minhas declarações sou eu.

A nossa História é resultado dos nossos atos. Se houver historiadores daqui 50 ou 100 anos e se houver material de uma semana das três emissoras, haverá provas em preto-e-branco e em cores da decadência, alienação e falta de cobertura da realidade que vivemos.
Atualmente estamos ricos, gordos, seguros e complacentes. Somos inclinados a aceitar informações desagradáveis e perturbadoras.
A nossa mídia reflete a nossa atitude. Mas, exceto se esquecer os lucros e reconhecer que a televisão está sendo usada para distrair, enganar, entreter e nos isolar, então a TV e os que a patrocinam, assistem e que nela trabalham terão uma visão bem diferente, mas será tarde de mais.

A nossa História é resultado do que fazemos. Se continuarmos como estamos, a História se vingará e nos fará pagar.
Às vezes, exaltamos a importância das idéias e da informação. Vamos sonhar com a possibilidade de que, num domingo à noite, se faça um estudo clínico sobre a educação. E que, uma semana depois, sirva para um análise da política americana no Oriente Médio. Será que a imagem dos patrocinadores sairia arranhada? Será que os acionistas ficariam revoltados e reclamariam? O que aconteceria? A não ser que alguns milhões de pessoas se informassem mais sobre assuntos que determinam o futuro do país, portanto, o futuro da nossas empresas.

Àqueles que dizem que as pessoas não se interessam, que são complacentes, indiferentes e alienadas, eu apenas respondo que, na minha opinião de repórter, há provas concretas de que essa afirmação é incorreta.
Mas, mesmo que não o seja, o que eles têm a perder?
Se estiverem certos e nosso veículo só servir para divertir e alienar, a televisão está em perigo e logo veremos que a luta foi em vão.

Esse veículo pode ensinar. Pode esclarecer e até inspirar. Mas só pode fazer isso se as pessoas o usarem com esse objetivo. Senão será apenas um monte de cabos e luzes dentro de uma caixa.
"
Foda, não?!
Amei.