quarta-feira, 11 de abril de 2007

"outro dia"; hoje.

Não sei dizer muito bem o motivo, mas de repente eu comecei a ficar injuriada com essas coisas de religião. E também não sei dizer, com certeza, se dá pra colocar as idéias em ordem, mas se der, a ordem é essa que vai aí.

Eu, que já andava descontente/pensativa sobre esse assunto, fiquei muito irritada com aqueles bispos que foram presos nos Estados Unidos.
Como é que as pessoas que fundam uma igreja, que pregam "a palavra de Deus" e o amor ao próximo, roubam, sendo que elas deveriam ser as primeiras a dar o exemplo?
E como é que os adeptos da sua igreja acham que isso é "coisa do demônio"?
E comecei a ficar brava porque percebi que muito do que se acredita foi inventado pela incapacidade do homem de lidar com as coisas que o cercam e ele não entende. Fiquei brava com aquelas pessoas que acham que as pessoas não erram nunca, que se algo dá errado é porque ou foi o demônio ou foi a vontade de Deus. São esses os argumentos e as pessoas se satisfazem com eles - ou não.

Me incomoda saber que falar de Deus - seja lá que nome Ele tenha - é algo tão poderoso, algo que faz com que as pessoas se lancem ao mar sem saber se voltarão ou se explodam por aí e ainda assim há tanta gente que faz disso algo para ganhar dinheiro ou status.

Fiquei brava porque eu acho que Deus não quer o meu dinheiro; acho Deus não se importa se eu depilo minha perna e corto meu cabelo; que Deus não se importa se eu não uso saias até o calcanhar ou não me cubro inteira e só deixo os olhos à vista; Deus não vai ficar bravo comigo se eu não for à missa todo domingo e ainda assim for uma pessoa boa (afinal, há tantas pessoas que vão na missa todo domingo e não são capazes de fazer nada para ajudar aos outros); Deus não vai me mandar pro inferno se eu fizer sexo antes do casamento porque foi Ele quem criou o amor e eu sou muito capaz de amar e não querer casar e também acho nem Deus e nem ninguém vai [poder] me criticar pelo que eu digo (mas também acho que ningém precisa concordar comigo).

De repente eu percebi como Deus foi colocado como um tirano que deu a capacidade de escolher mas, veja bem, Ele não vai ficar muito feliz se você não escolher o que Ele quer que você escolha.
De repente eu me dei conta de como Deus foi criado para ser algo inalcansável, distante, e quanto mais longe dos homens, melhor; assim Ele não pode ser questionado, ainda que não seja inteligível, e nem enfrentado; assim, Ele é inegavelmente perfeito.

E se as pessoas estiverem erradas? Se Deus for alguém com quem se pode dialogar falando gírias; se for alguém que não se impõe, apenas ouve e aconselha; se for alguém que ri com você dos seus erros e problemas e lhe ensina a ser corajoso e forte para superar as dificuldades que aparecem na sua frente; se for alguém que não mandou nada, apenas lhe pede para respeitar e ajudar o próximo. A Igreja ficaria triste?
Na Idade Média, eu seria torturada e enforcada por achar que se pode ser feliz, progredir e ajudar os outros à serem felizes e progredirem também sem precisar pagar nada ou precisar ir assistir à uma missa chata em latim - é distante; você não entende nada, mas precisa estar lá para ir pro céu. E se não existir inferno? E se não existir céu, paraíso, descanso eterno? Seria esse o fim? Que fim, fim de quê, fim de quem?
E tantas vezes usaram a batina para matar. E quantos padres não a usaram para esconder mulheres e crianças - no mais sórdido dos sentidos? Não se pode generalizar, obviamente, mas eu me cansei de gente dizendo que os pecados deles são menores que os meus porque, veja, eles usam batina.

Cansei de pessoas me dizendo o que eu tenho que fazer, quanto de mim eu preciso doar para ir pro paraíso, pra não arder no mármore do inferno, para ajudar à humanidade ou simplesmente para dar luxo à pessoas que não merecem, digo, enviados de Deus. Cansei de pessoas repetindo em voz alta aquilo que elas nasceram ouvindo e já nem sabem se são felizes assim ou se foram condicionadas à achar que isso é felicidade. Cansei de religiões que me dão ordens, mandamentos e metas à cumprir para mudar a humanidade sem antes ter mudado, para melhor, quem sou.

Prefiro pensar que eu sou responsável pelo que acontece na minha vida, que as coisas que não entendo e não parecem boas não são culpa do diabo ou da vontade inquestionável de Deus.
Prefiro pensar que é mudando quem sou que eu conseguirei mudar aquilo e aqueles que me cercam.

E se o Deus verdadeiro estiver dentro de mim? Se Deus é amor, e tão somente amor, e eu agir apenas com amor e bondade, porque eu não poderia ser o meu Deus?

Não é porque eu não trago a bíblia comigo que eu mereça ser condenado. E também não é porque eu trago com a bíblia comigo que eu mereça ser idolatrado.

E porque algumas pessoas acham que eu deveria me sentir culpada ou pecadora por pensar assim?
Minha consciência, inteligência e vontade não foram me dadas à toa, independente se pelo Big Bang ou por alguém que soube dar vida ao barro.

["Não concordo com uma só palavra dos que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-las."
Voltaire.]

E é isso aí; independente do que seja isso.