das coisas dela
Sorria sempre. Mas ninguém sabia se de alegria ou de desespero.
Aquele dia-a-dia todo dia, o sol que nascia sem que a manhã surgisse pra ela, o sol que ia embora levando aquilo que fazia seus olhos mais verdes e seu sorriso mais singelo, as pancadas das complicações de todo dia, as pancadas das pessoas todo dia, o mundo que caía e ela, que nem podia cair também, foram tornando-a translúcida, quase transparente.
Confesso que ela até queria cair junto com o mundo; mas não o fazia.
Era impressionante como aquilo - que nem eu e nem ela sabemos explicar o que é - a mantinha de pé.
Pra quê?
Não sei. Não sabemos. Vai ver exista um plano misterioso e luminoso pra cada um de nós e saber que ele existe arruinasse tudo.
Sorria; concordava as vezes, sorria sempre.
As idéias dentro dela tomavam proporções jamais vistas e todas aquelas coisas que ela deixava pra falar depois faziam com que seu corpo se tornasse muito pequeno.
Nenhuma mulher merece viver num corpo de menina.
Pensava. E isso era tão cruel, tudo era tão cruel, que num dia (que ela não sabe qual era) ela se pôs antes do sol e não nasceu mais.
Teria ido para um lugar melhor? Um lugar onde sorrir fizesse sentido e os dias fossem daquele jeito que ela sabe que merecia?
Ainda que fosse quase transparente, sua presença era especial e saber que podia contar com ela era reconfortante.
Seria egoísmo da minha parte aceitar o conforto de alguém que se sentia perdido no mundo, incomodado por ele?
Ela Sorria.
Isso bastava.
[Isso basta?]