quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

[suspiro]

Porque eu acho que temos que fazer de tudo na vida.
Sim, isso inclui ficar de recuperação final na matéria que você mais odeia para prolongar o convívio com ela e acabar gostando ou para você ter a oportunidade de se empenhar complemente em aprendê-la e depois esquecê-la para sempre ou para aproveitar sua última chance de sentir a agonia da corda no pescoço, já que você está arriscado à ficar retido mais um ano. Talvez simplesmente para prolongar o máximo possível o convívio com o colégio. Porque amanhã, tudo isso será passado e aí, não tem mais volta.

[Eu invento cada desculpa esfarrapada para tornar a convivência com a minha falta empenho menos dolorosa, que às vezes até eu me espanto. Mas o fato é que nem tudo é brincadeira.]
Há quem diga que sim, tudo muda depois do colégio: maior independência; mais responsabilidade; menos tréguas e folgas; férias consideravelmente menores; escolher o que você vai fazer para o resto da vida aos 17 ou 18 anos e correr um sério risco de errar; talvez morar longe dos pais e aprender a viver sem tudo aquilo que, até então, era imprescindível para sua sobrevivência. Crescer.
Há quem negue: passar do colégio para o próximo estágio - seja lá ele qual for -, não muda nada.
A verdade é que eu ainda não sei como é passar do colégio para o próximo estágio porque eu quis - opção?! - provar de tudo antes de não ter mais essa chance. Mas desde já, sei que sentirei falta.
Sentirei falta dos professores, das aulas que matei, das aulas em que dormi, das aulas que assisti, das conversas paralelas, dos bilhetinhos no meio da aula, dos amigos e até mesmo dos colegas - aqueles não muito legais. Sentirei falta de tudo o que senti e de todos que conheci nesses anos na escola. Mas, acima de tudo, sentirei falta do pôr-do-sol que era possível se ver da porta do colégio.
Quantos espetáculos não vi, sentada na calçada no fim da tarde, pensando apenas na beleza daquele que se despedia majestosamente todo dia, para nos permitir fazer amanhã o que não fizemos hoje e, assim, tornar nossa existência memorável?
Confesso que diversas vezes fiquei brava com a minha mãe por ela ter dito que ia me buscar tal hora e só ter aparecido uma hora depois. Mas, como eu sempre digo, tudo tem seu lado positivo e se minha mãe não tivesse me feito sair para esperá-la e não tivesse se atrasado, eu não teria saído e, acidentalmente, visto o sol se pôr. De fato, nada acontece por acaso.
O pôr-do-sol, muito além de bonito, é sempre inspirador. E é lindo visto dali, daquela calçada na frente do colégio.
Minha sorte é que eu fiquei de recuperação final - leu direito?! sorte! - para poder vê-lo mais algumas vezes e me despedir dele e de mais uma etapa da minha vida, assim como ele faz todo dia. Afinal, é preciso abrir mão do hoje, por mais fantástico que ele seja, para termos a oportunidade de nos descobrirmos e nos tornarmos tudo o que podemos ser, fazendo com que nossa vida seja tão digna de ser admirada e lembrada como cada pôr-do-sol.

[E é a noção de que nada dura para sempre que faz com que nos esforcemos para fazer o agora valer a pena.]