domingo, 18 de março de 2007

refletir (sobre) o que me cerca?

Ontem eu estava inspirada a pensar em coisas que eu acho politicamente incorretas.
De repente me peguei falando sem parar filosofias sem pé nem cabeça, que surgiam de algum lugar e iam rumo à lugar algum.

Falei da Guerra do Vitenã e na influência decisiva que a veiculação de imagens da guerra, para o mundo inteiro, fez com que a guerra chegasse ao final.

Falei da Guerra do Iraque e como, agora, estão controlando a mídia para que as pessoas não vejam o que acontece realmente por lá, para que não haja grande divulgação de imagens, afinal ler uma notícia que diz "30000 mortos no Iraque" não causa tanta indignação quanto a divulgação de uma foto onde aparecem pilhas de mortos - homens, mulheres, crianças, idosos.

Estive pensando numa imagem muito comum de um menino pedindo dinheiro. As vezes, quando chega um desses meninos perto de nós, ficamos com medo deles.
Outra imagem muito comum que surgiu em seguida, para confrontar a primeira, é que quando passa algum homem vestido de terno e gravata dirigindo um carro importado, ficamos admirados só de pensar que aquele deve ser um executivo bem sucedido, honesto, pai de família; e se vê nitidamente as pessoas venerando aquele homem pelo que ele tem.
Que comece a luta.
Round 1: A verdade é aquele muito provavelmente é um dos milhares de políticos que pegam o seu dinheiro - da minha mãe, no caso - desviam para contas milhonárias em algum paraíso fiscal e compram ternos caros e carros importados que fazem com que você os admire.
Isso significa que você trabalha para o cara poder comprar tudo o que ele bem entender.
Round 2: Depois de você pensar que o cara é um político corrupto, você percebe que, geralmente, nem ao menos por um segundo pensa que na verdade você trabalha é para que aquele menininho tenha educação, tenha alimentação e pronto socorro com atendimento de qualidade - porque viver bem é (ou deveria ser) um direito, independente se você nasceu nos Jardins ou na favela da Rocinha - e não para que o garanhão ali tenha um Audi!
Round 3: É só então, a essa altura do campeonato, que você percebe que está no está no meio de uma puta treta, ou melhor, entre um o Audi com o bonitão corrupto bem vestido e o menininho de 5 anos vem te pedir um trocado.
Round 4: Você fica irado por não ter pensado em nada disso antes. Grita: "Filho da puta, devolve meu dinheiro!" - isso é para o motorista do Audi e não pro menininho.
Bom, chegar perto dele pra descer o cacete no cara não vai rolar porque você é honesto e paga o seu "4 meses de trabalho de graça", vulgarmente conhecido como "imposto", o que implica no fato de que a seu carro não vai nem chegar perto daquele Audi que a sua vista já alcança apenas com grande esforço.
Round 5: Depois de muito pensar e muito apanhar, você descobre um golpe que vai levar seu adversário direto pra lona: você decide que, a partir daquele momento, você não vai mais pagar imposto nenhum!
É aí que entra o juiz dizendo pra você que esse é um golpe muito baixo, que você foi desclassificado, que não é pra você discutir com ele porque ele é o juiz e que você vai preso por ser um ladrão que rouba leite de criancinhas - algo i-m-p-e-r-d-o-á-v-e-l.
Acabou a luta, você perdeu.
E você vai sempre perder porque esse governo desgraçado faz leis usando dois e pesos e duas medidas.
Complicado tudo isso, não?!

Num determinado momento, me perguntei qual era a língua do amor. Sempre dizem que é o francês mas eu acho que é o espanhol.
Acabei chegando à conclusão de que francês é a língua do amor quando ele é puro, quase impossível (hahaha): Je t'aime!
Agora, se for algo do tipo carnal (caliente, entende!?), nada melhor do que um "te quiero."

Também pensei em uma aula de história que tive essa semana, quando meu professor falava do Descobrimento do Brasil e da primeira missa celebrada nesse solo.
Olha só essa parte da carta de Caminha: "Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam."
Será que esse trecho sugere um estupro? A primeira carta que descrevia o Brasil para o Rei de Porugal descreve um estupro!?
Ou será que você prefere aquela história que diz que chegam aqui 3 caravelas, cheias de homens, que só viram mar, homem, mar, homem, mar e homem durante 3 ou 4 meses, veêm os indiozinhos e indiazinhas todos pelados, dão "Bom Dia!" e vão celebrar uma missa?
Aham, sei.
Pois é, desde sempre as pessoas acham que no Brasil só tem prostituta.

E o pensamentos iam e vinham e eu falava tudo o que passava pela minha cabeça tão rápido que as vezes até me faltava o ar. A noite estava bonita, e os carros passavam, as pessoas passavam, passavam esquilos e eu ficava lá, com os meus pensamentos.
Sabe qual foi o último deles?

Ele, quando foi fechar a porta, viu que ela também estava atrasada. Parou onde estava e ficou espiando ela andar aqueles 5 metros até a porta, que, para ele, mais pareciam uma passarela de 30 metros onde ela desfilava e não simplesmente andava.
E as pessoas lá dentro olhando pra ele pensando o que ele estaria fazendo parado ali.
Foi quando ela surgiu, empurrando sutilmente a porta de um lado enquanto ele puxava, com a mesma intensidade, a porta pelo outro lado.
Ela baixou a cabeça, sorriu tímida, agradeceu.
Ele olhou pra ela e sorriu.
Cada um foi para o seu canto. E foi naquela hora em que ela empurrava e ele puxava a porta que ela entendeu que eram um só. Se completavam.
Mas nunca iam saber disso porque ela achava que ele tinha que ir conversar com ela; gostava das coisas tradicionais. E ele era todo moderno e, depois de, frustradamente, tentar algo sério diversas vezes, achava que ela é que tinha que ir conversar com ele. Assim ele saberia que ela gostava dele de verdade e não recearia mais nenhuma decepção.
Se completavam. Só não sabiam disso. E ainda que soubessem, foi a falta de coragem dos dois que manteve todo aquele sentimento quieto por tanto tempo, que os dois acabaram se esquecendo de que um dia ele existiu.

[E eu acho que você é um pouco romântica sim, só que você não sabe disso.]
Risos.