domingo, 31 de dezembro de 2006

adeus, ano velho

E mais um ano fica para tras. Ainda bem; sinal de que a vida segue em frente.
Estive pensando em muitas coisas esses dias.
Pensei em tudo o que me aconteceu esse ano. Em tudo o que eu gostaria que tivesse me acontecido e não me aconteceu. Pensei na vida, nos amigos, nos amores - ao menos nos amores em potencial - que passaram pela minha vida e agradeci à eles pelos bons momentos e pelos maus e preciosos momentos em que me dispus à crescer e aprender. Pensei em como eu terei que ser disciplinada pra alcançar todos os meus objetivos nesse ano que vem para me trazer novos ares, novas esperanças e uma nova vontade de tentar de novo. Dessa vez, com uma nova mentalidade.
Me dei conta de que eu não sei o que quero da minha vida. Não sei exatamente quais faculdades prestar - a Federal de Santa Catarina (curso de cinema) é realmente tentadora. Obviamente, não pela faculdade, mas sim pela localização da mesma: Florianópolis -, que cursos fazer, o que fazer depois disso. Pensei nas aulas de artes que quero pra mim, em como eu vou aprender inglês by my own, nos programas de computador que preciso dominar, em tudo o que terei que negar para estar só mais um pouco perto de um sonho que eu não sei se vai dar certo, se é possível e nem para onde vai me levar. Mas o ano novo vem me dar mais uma oportunidade de começar tudo de novo, de tentar com mais empenho, de querer com mais força de vontade. De seguir em frente, ainda que não saiba pra onde e que eu não preciso me preocupar se não sei o que vou fazer da minha vida porque, em primeiro lugar, são as coisas que me escolhem e eu não o contrário - umas das coisas em que acredito: o que tiver que ser, será -; e em segundo lugar, eu sou muito nova e o mundo tão imenso que eu posso deixar para descobrir as coisas de gente grande depois e me apegar, nesse ano que vem vindo, às coisas pequenas que fazem o agora ser mágico.
Esse ano passou muito rápido. Na verdade, não sei se foi ele que passou rápido ou eu que me ocupei em pensar em tantas coisas que não vi o tempo passar. Mas sei que foi ótimo; foi divertido e tumultuado. Parece que foi ontem que eu estava na praia bebemorando a chegada de 2006. Talvez esse ano minha única tarefa fosse pensar, crescer e me apaixonar. Dormi muito também. Agora acho que, em 2007, eu tenho que me apaixonar mais, crescer mais, pensar mais e agir mais do que dormir.
Tudo bem; tentarei.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Natal

Como uma boa católica não-praticante (talvez até descontente da própria religião), não sei precisamente o sentido do Natal. Pensando comigo aqui, agora, acho que foi quando Jesus ceiou com seus discípulos. Mas só pensando agora; no começo do parágrafo, nem palpite eu tinha!

[Se bem que, considerando a quantidade de presépios espalhados por aí, acho que foi pelo nascimento de Jesus. Tá; esse é meu palpite final.]
Enfim. Minha festa preferida.
Quando criança, era pelos presentes. Hoje, é pela bagunça. Pelo burburinho daquele monte de gente falando ao mesmo tempo; pela oportunidade de reunir todos e por ter a garantia de uma noite cheia de alegria, piadas - com e sem graça -, risos, bebida, comidas fantásticas, música boa e alta, pelas jogatinas (escala 40, truco, pôquer e o que der vontade). E pelos presentes que eu ganhar também, mas mais pelo que eles representam - a intenção - do que pelo que são; eles já não são parte fundamental da (minha) festa.

De longe, o Natal é a festa que eu mais amo. Por toda união, alegria, paz e amor que essa festa me inspira. Por eu poder olhar ao meu redor, para a minha família louca, e dizer que eu tenho muita sorte e muito orgulho de fazer parte daquilo tudo.
Porque eu amo tudo o que tenho.

domingo, 24 de dezembro de 2006

...sei que falta.

E não sei o que procuro. Nem se procuro algo.
Acho que tento me livrar de um vazio passando para outro alguém a culpa por qualquer coisa ecoar aqui dentro. Ou então, passando para outro a obrigação de me salvar, já que eu acho que sou muito pequena para isso.
Peço para que alguém me perdoe por algo que não fiz. Para que me salve de uma ameaça que não existe. Que me tire desse lugar que é exatamente o meu. Peço que me veja, e não só que me olhe. Não vire as costas para mim. Não me deixe aqui, agora.
Agora, que tudo o que eu preciso é do seu abraço.
Eu não pedi nada disso. Não pedi essas coisas que caem no meu colo e que eu tento resolver com a maior paciência, carinho e cuidado possíveis. Sei que posso cuidar de tudo o que aparece pra mim. Eu posso cuidar de você, eu posso cuidar de nós. Só não vire as costas pra mim.
De nada adianta ser tanto se está sozinho.
Não faça isso conosco, ainda que não haja nenhum "nós".

[Para quem eu estou falando mesmo?]

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

falta...

O dia amanheceu querendo ser feio. Fez calor e aquelas enormes nuvens escuras carregadas de água não sumiram nem desabavam. Preferia que tivessem desabado, preferia que tivesse chovido.
Tomaria banho de chuva pra tentar, quem sabe, lavar a alma e deixar tudo aquilo que pesa aqui dentro ir embora. Mas não choveu e eu tive que me carregar o dia todo.
No caminho da cabelereira, uma briga que cheirava à gasolina. Eu fiquei quieta, só assistindo, querendo que tudo aquilo acabasse logo.
O tempo não passava, se arrastava. O ar parecia sólido demais pra ser respirado.
A cabelereira errou no corte, de novo. Não reclamei, de novo. Liguei o foda-se e fui embora.
Dormi um pouco. Andei um pouco em círculos. Pensei um pouco em tudo, de novo; e mais uma vez.
Senti saudade. Quis fugir. Quis te ver.
Hoje o dia não foi bom porque eu não acordei disposta a fazê-lo ser bom. Era pra você ter me abraçado ontem e não o fez. Não é culpa sua, eu sei.
Mas fui eu que deixei que você chegasse. Agora é a sua ausência que faz silêncio em todo lugar.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

começo

Ao chegar, desci do carro, olhei ao me redor e me arrependi. Foi tudo o que senti.
Vi aquele monte de gente sorrindo, contando das coisas que fizeram desde a última vez que se viram, cada um com um estilo e todo mundo tão enturmado, que me senti deslocada. Quis ir embora.
Mas, aí elas vieram. Seis meninas me convenceram a ficar. Disseram que eu devia ir e me arrependeria se não as ouvisse. E foi assim, do nada, muito de repente, que eu as conheci. E me apaixonei por cada uma delas logo de cara.
Nem me lembro quantos segundos eu levei pra perceber que aquelas pessoas realmente valiam a pena, mas sei que foi bem pouco tempo - pouco mesmo.
Tem pessoas que passam anos do seu lado e não são tão importantes quanto outras que você conhece só há alguns dias.
"Afinidades da alma", como um amigo disse uma vez. Disse só isso e disse tudo. E hoje, eu olho pra trás, e sinto saudade. Quero ficar mais um pouco, quero voltar, conhecê-los pela primeira vez outra vez; rir, chorar, conversar, aprender tudo de novo. Quero ficar pra sempre lá.
Mas penso isso olhando pro passado.
Olhando para o presente, eu desejo que estes que passaram 3 dias comigo estejam mais perto, no lugar daqueles que convivem comigo há anos e não significam nada pra mim.
Olhando pro futuro, eu desejo e farei de tudo para que essa amizade que simplesmente apareceu, dure pra sempre. Porque só "agora" é muito pouco.

Tem vezes que o amor vem tão rápido que a gente não entende - e nem quer entender -, mas sabe que é verdadeiro.

Para todas as pessoas maravilhosas que fizeram aqueles três dias na colônia de férias realmente valer a pena. Amo cada um de vocês imensamente (principalmente as garotas maravilhosas do Guarany!).

E agora, o melhor da colônia (oh, glória!)...

(...amém!)
Amei.

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

tempo

Ele não tinha se dado conta do quanto ela estava falando sério quando ele voltou e ela disse que que ele não era mais real.
Demorou até ele perceber que ela realmente dizia a verdade. Ele achava que ela ainda levaria um pouco deles por algum tempo, mas não. Ele tinha virado apenas letrinhas numa tela de msn e se tornado tão real quanto plutão.
Baixou a cabeça, calou-se e, cansado, foi embora.

Mas ela é perfeccionista e não deixa espaços vazios em nenhum lugar. E as palavras não saem sem certeza e as conclusões não ficam sem ponto final. Ainda que ele tivesse tentado, em vão, criar algo além daquele pequeno que estava ali para dizer o que ele ainda não tinha reparado.
O final já tinha chegado e ido embora. Fazia tempo.
Tempo é uma coisa traiçoeira.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

parênteses

Você, na minha leitura hoje.

"Porque o único pecado dela foi gostar de alguém que não a merecia.
E o único pecado dele foi merecer alguém de quem não gostava."

domingo, 17 de dezembro de 2006

aproveitando

Ontem foi a formatura do São José e eu não podia deixar de ir.
Demorei pra me arrumar (como sempre), fiz minha irmã (que estava meio brava comigo) me levar até a casa da Fernanda, depois a fiz voltar em casa e ir lá de novo, porque eu tinha esquecido meu convite; saímos da casa da Fê meio tarde, mas, assim que chegamos na festa, ouvimos chamar "André Okuda Campaneli" (mais conhecido como 'Salsicha' - e ninguém sabe explicar o porquê). Nem que fosse combinado, chegaríamos em tão perfeita hora.
E ver todos comemorando e tudo mais nos deixou com uma vontade indescritível de nos unir àquele abraço coletivo. Foi aí percebemos o que os alunos do São José têm que os das outras escolas não tem. Digam o que for, haja o que houver, as pessoas de lá são diferentemente especiais. E por mais que esse ano tenha sido muito bom, ter mudado de escola tenha sido ótimo e eu tenha conhecido muita gente legal, bateu a saudade. Muita saudade.
A companhia estava ótima; a música, nem tanto. Mas a gente passa por cima desses meros detalhes e cai no samba - mesmo não sabendo sambar - porque o que importa é aproveitar; é se divertir. É ver a alegria de todos aqueles que fizeram parte da sua vida e de alguma maneira - ou de muitas maneiras - são importantes para você e ficar feliz por eles e com eles. É se deixar levar e guardar todos os momento possíveis na memória e no coração, porque se sabe que não haverá outra oportunidade como aquela. É nunca se esquecer de nenhum mínimo detalhe e deixar que toda aquela alegria e o sentimento de amizade extrema ecoe para sempre na alma com a mesma intensidade daqueles preciosos segundos, por mais que os anos passem.
Sentirei saudades infindáveis daquele pessoal batuta.

Saldo: garganta inflamada; dor de cabeça (lembrando que dor de cabeça não é ressaca; não nesse caso); sono (fui dormir 5:30 da manhã); $20 da Fernanda que esqueci de devolver; meu RG, que ficou com o Salsicha; sono; saudade imensa; felicidade (por eu ter conseguido e ir e feito valer a pena) e - muito - sono.

sábado, 16 de dezembro de 2006

inventado sem título

Gritou, espernou, chorou, destruiu tudo ao seu redor antes de começar a destruir a si mesmo. Começou a se mutilar, pedaço por pedaço, até que sobrasse apenas o único motivo de tanta revolta: aquela alma triste e culpada que se tornara pesada demais para ser suportada.

Começou pela sala. Rasgou o estofado do sofá, quebrou a armação que o sustentava, fez migalhas daquela espuma, jogou a TV pela janela, quebrou todos os porta-retratos, rasgou os retratos; rasgou as verdades, os sorrisos, o mundo bonito que já não existia mais. Correu por todo o lugar marretando as paredes, pulou na cama até que esta cedesse, jogou o computador na parede, pisou no que sobrou. Quebrou os vasos, quebrou as flores, quebrou as janelas. Quebraram-lhe o coração, quebrou o braço e agora quebrava tudo o que fazia aquele breve sinal de vida que já tinha partido há muito tempo, presente.
Não queria, não entendia, não suportava. Passou o dia fazendo com que o mundo ao seu redor desabasse assim como o seu mundo tinha desabado séculos atrás. Já não podia mais com tudo aquilo.
Toda aquela bagunça terminou bem onde começou. Dentro de si.
Debaixo da pele e dos músculos, incrustrado nos ossos, estavam seus pecados que ficavam mais pesados a cada segundo. E parecia que cada segundo trazia consigo um silêncio tão grande e insuportável que outro segundo só viria depois que a Terra acabasse e surgisse novamente. Já não podia ficar em pé. Já não podia falar. Mal conseguia ouvir e não enxergava mais.
Foi ali, caído, calado e cansado que a vida que já não existia mais foi embora.
O que sobrou nem sequer podia ser visto. Se tornara tão pouco e tão pequeno, que passou a ser nada.
Nada, no meio daquele lugar, pagando com a sua vida pela vida que tirou.
Fez-se silêncio. Tudo parou.
Foi assim que a dor acabou.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

reconheci você

Hoje sairam as notas da escola, as da 4ª unidade letiva - geralmente chamada de "recuperação final" - e eu fui lá ver.
Fiquei com 5.78, sendo que precisava de 5.74 pra passar. Tenho sérias suspeitas de que fui mesmo é aprovada pelo conselho, isso sim. Mas tudo bem, o que interessa é que passei.

Mas não posso deixar de agradecer ao Bruno. Brúnico, Bruninho, Pfeffefffefefeferkon.
Esse menino muito foda me ajudou a estudar durante essas semanas todas. Ficava me explicando com a maior paciência do mundo, até eu entender. Deixou de estudar pra segunda fase da fuvest durante esse tempo só para ajudar à mim e à Fernanda. Com certeza, sem a ajuda dele, eu não teria chegado nem perto.
Bruno, não podia deixar de te agradecer. Você não faz idéia do quanto me ajudou essas semanas e do quanto sua amizade é importante pra mim.
Saiba que, assim como eu pude contar com você quando eu mais precisei e você me ajudou mesmo precisando estudar, você pode sempre contar comigo. Sábados, domingos e feriados, fora do horário comercial; sempre que precisar.
E um dia ainda te dou um piano de concerto. E pago até uma construtura pra derrubar a parede da sua casa - pra colocar o piano lá dentro - e construir de novo.
Enfim. Só vim dizer que eu te amadoro, Bruno fodão.

Quem são os caras que dão a cara quando o tapa é pra você?

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

pensamento minuto

Hoje estive conversando com a minha instrutora lá da auto escola - sim, porque eu odeio silêncio; seja lá com quem eu tenha que falar para que não sobre espaço para silêncio. E até que ela é bem legal.
Ela, no mínimo uns 35 mais velha que eu, falando que sempre achou que quando ficasse mais velha, as coisas ficariam mais fáceis, pois ela ficaria mais experiente e saberia enfrentar os problemas que surgissem. Disse que sempre achou isso; até ficar velha.
Eu concordei, em parte. Sim, se fica mais experiente com o tempo. Mas a questão é: mais experiente em quê?

Conforme o tempo vai passando e vamos inevitavelmente vivendo e enfrentando um monte de coisas, ficamos mais experientes sim. Só que experientes naquilo que já vivemos. Esse conhecimento qua acumulamos sobre determinados assuntos, situações, coisas - sei lá -, pode até ser útil, mas sempre surgirão em nossos caminhos novas dificuldades, novos problemas, novos relacionamentos complicados. Isso significa que envelhecer não torna as coisas mais fáceis só porque já se viveu relativamente bastante.
Na minha opinião, essa idéia de "experiência" é só uma ilusão da juventude que talvez traga algum conforto por achar que agora não se sabe como enfrentar as coisas, mas um dia se saberá.
Acho que o tempo vai nos deixando mais tolerantes, pacientes ou mesmo conformados, isso sim; mas não faz com que saibamos enfrentar todas as situações, visto que é impossível se viver tudo para saber como enfrentar tudo. Apenas nos ajuda a pensar melhor ou enxergar as coisas de um modo diferente, de um jeito que somos incapazes de fazer e entender quando jovens.

Ela concordou.
Eu sorri.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

assim, sabe.

Atrasada, como sempre. Culpa do ônibus (como sempre). Mas cheguei lá.
Às vezes, até se imagina o que será, mas não se fica esperando.
Não fiquei esperando e acho que joguei todas as expectativas e pensamentos pra tão longe que fiquei até surpresa, como se nunca tivesse nem imaginado.
E pela boa conversa, pela companhia agradável, pelo filme, pela paciência e pelo carinho, você merece um espacinho aqui, estranho.

Porque nem sempre se precisa conhecer uma pessoa há muito tempo para saber que ela é especial.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

resposta

[Bem mais que o tempo que nós perdemos, ficou pra trás também o que nos juntou.
Desfaz o vento o que há por dentro desse lugar que ninguém mais pisou.
Você está vendo o que está acontecendo?

Sem mais, eu fico onde estou; prefiro continuar distante.]

E já não entendia e nem queria entender. Como sempre.
Afirmava com tanta certeza que nada tinha sentido que já não sabia se as coisas realmente não tinham sentido ou se apenas não queria ver, para que pudesse continuar afirmando.

Se escondia. Sempre. Nunca estava em primeiro plano e nem de longe quisera estar em um único plano.
Fugia. Era mais fácil.
Chorava. De tristeza, alegria, pela liberdade que tanto queria e agora tinha, pela dor; para lavar a alma, talvez. Não sabia.
Queria. Queria muito, mas quando olhava em torno de si, via que não havia o que querer. Não havia futuro, o passado já não existia e o presente era algo que, achava, injusto.
Escolheu. Tinha muitas opções e escolheu uma delas. Pediu para que ela fosse embora porque sabia que ele não conseguiria ir. E ficou só, com um monte de lembranças que o tempo ia levando embora, quer ele quisesse, quer não.
Não sabia o que sentia. Não sabia como se sentir. Quisera ele poder entender e explicar tudo o que se passa dentro de sua cabeça. Mas não conseguia, nem sequer tentava. Apenas queria.

E ela não se importava. Não entendia e nem queria entender. Fechou aquela porta com tantos cadeados, que mesmo sem jogar as chaves fora e mesmo que quisesse, não seria capaz de abrí-la de novo.
Ora. Ela se reinventou e, pensando nisso, ela percebeu que não sabe onde ele foram parar ele e as lembranças dele; ela abandonou em qualquer lugar e foi embora, exatamente como ele havia pedido - ainda que sem querer.
Talvez até lamente por eles. Se um dia ele quiser voltar, se um dia ele olhar pra trás, não vai encontrá-la. Ela já não existe mais. Não para ele.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

passado

Chovia muito. E era engraçado como eu sentia cada esbarrão naquela calçada.
Andando reto, rumo à não sei bem onde mas que ficava bem longe dali, as pessoas não me viam e quando esbarravam em mim, derrubavam meus pedaços no chão. E eu não ia buscá-los; ia ficando (mais) pequena, fraca e incompleta. Sentia o mundo desabar e eu desabava com ele, sem me importar em me deixar ali, permitindo que qualquer um que quisesse levasse embora as partes que até então eram as mais importantes e faziam com que eu me sentisse inteira. Ainda que me deixando pelo caminho, seguia em frente sem hesitar e me importar em me recolher. Minha única preocupação era levar o que sobrasse embora.

E depois que amanhaceu, que o sol foi e voltou e eu estava calma e descansada, eu me inventei de novo. Me fiz completa, ainda que diferente; aquelas partes que antes eram importantes e cuja ausência me fazia sentir vazia, já não existiam mais e eu me questionava se um dia existiram ou foram obra da minha imaginação. Qualquer outra coisa havia ocupado o lugar delas. E todo aquele temporal no qual eu me afogava sem estar molhada havia acabado. Eu já tinha fôlego suficiente para começar tudo de novo. Mais uma vez.

A fé que você deposita em você e só.

domingo, 10 de dezembro de 2006

questão de pontuação

Tem horas que felicidade é só uma questão de trocar ponto final por reticências; porque o céu é o limite e "pra sempre" são todos os "agora".
Tem horas que paz é questão de trocar interrogação por ponto final.
Perfeição é uma questão de exclamação.
Dúvida equivale à reticências no lugar de ponto final e tristeza é ponto final no lugar de exclamação.
Amor é interrogação e exclamação no lugar de um espaço vazio.

E se antes havia interrogação e exclamação e ela queria que houvesse reticências, agora ela já nem se importa que haja um ponto final.
Ela nem sequer se lembra dele.

sábado, 9 de dezembro de 2006

flying away

Certa vez a questionaram de quando havia aprendido a voar. Ela parou e pensou. Respirou fundo antes de responder que não se lembrava da última vez que andara e nem sequer se aprendera a fazê-lo.
Em sua mente, havia apenas resquícios de sua primeira queda, na primeira vez que se arriscou a ver o mundo de outro ângulo. No início, não foi fácil, mas aprendeu como ninguém. Descobriu uma nova forma de encarar tudo - a vida, o mundo, as pessoas, os sentimentos; tudo - de um jeito tão magnifíco como jamais sequer imaginou que fosse possível.
Tudo fazia mais sentido lá (e fazia mais sentido justamente por não precisar fazer sentido algum). Ela via tudo de cima e não por ser superior ou especial, apenas por estar disposta a olhar de um jeito incomum, assistir à tudo e a aprender com tudo. Gostava de ver as pessoas e seus problemas e como elas os criavam - ou não - e os solucionavam. Às vezes, discordava do modo como elas pensavam e em outras vezes, achava errado como elas agiam mas não opinava nem criticava. Apenas via-as crescer ou se afundar em algo que não valia a pena e ficava feliz em pensar que as pessoas podiam aprender algo com suas vitórias ou suas derrotas, bastava estarem dispostas. E foi assim que ela foi aprendendo a aprender com os erros dos outros.
Aprendeu a interpretar as coisas e a agir de uma maneira diferente. Uma maneira dela. Por ser pequena flor, aprendeu que o valor de alguém é medido por seus atos e não por seu tamanho e também aprendeu que tinha que crescer, que tinha que ser grande mesmo que pequena, que tinha que dar um sentido à sua vida e estava sempre pensando em como ser melhor, como pessoa - ainda que, por passar a maior parte do tempo lá no alto, sua definição se tornasse complicada.
E depois do vento no rosto, de poder sempre ver o horizonte, de ficar mais perto do sol e de algo que ela não entendia muito bem o que era mas sentia que era divino, ela se apaixonou e não quis mais voltar. E só se deu conta de que as pernas estavam praticamente atrofiadas numa tarde dessas, em que as pessoas param para pensar em tudo o que lhes aconteceu até então. Ela nem se importou porque já não queria mais voltar; sabia que estava no lugar certo.
Um dia, quando nos encontramos por aí, eu - um pouco mais abaixo - fiquei reparando em como ela ficava bonita lá. Era linda e olhar para ela feliz daquele jeito, era fantástico. Era quase como ouvir uma música que, de tão divina, não pode ser reproduzida ou descrita. É algo que só toca uma vez, pra você, e pronto: ecoa em toda a alma, ainda que nunca mais se repita. Foi aí que eu pude entender porque não deu certo: fazê-la descer era quase como um crime.
Ela aprendeu muito, muito mesmo, e foi diferente porque, daquela vez, ela sentiu. Não viu ninguém sentir e sentiu também, ela sentiu. Só ela e só daquela vez. Mas por mais que fosse dolorido, ela continuou em frente, rumo à onde-o-vento-a-levasse. Sem desanimar, ela seguiu voando pelas almas alheias que habitam esse mundo que, ela sabe, é imenso e é todo dela.

Valeu a pena. De alguma maneira, valeu a pena e ela não se arrepende: ela desaprendeu a não sorrir.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

[suspiro]

Porque eu acho que temos que fazer de tudo na vida.
Sim, isso inclui ficar de recuperação final na matéria que você mais odeia para prolongar o convívio com ela e acabar gostando ou para você ter a oportunidade de se empenhar complemente em aprendê-la e depois esquecê-la para sempre ou para aproveitar sua última chance de sentir a agonia da corda no pescoço, já que você está arriscado à ficar retido mais um ano. Talvez simplesmente para prolongar o máximo possível o convívio com o colégio. Porque amanhã, tudo isso será passado e aí, não tem mais volta.

[Eu invento cada desculpa esfarrapada para tornar a convivência com a minha falta empenho menos dolorosa, que às vezes até eu me espanto. Mas o fato é que nem tudo é brincadeira.]
Há quem diga que sim, tudo muda depois do colégio: maior independência; mais responsabilidade; menos tréguas e folgas; férias consideravelmente menores; escolher o que você vai fazer para o resto da vida aos 17 ou 18 anos e correr um sério risco de errar; talvez morar longe dos pais e aprender a viver sem tudo aquilo que, até então, era imprescindível para sua sobrevivência. Crescer.
Há quem negue: passar do colégio para o próximo estágio - seja lá ele qual for -, não muda nada.
A verdade é que eu ainda não sei como é passar do colégio para o próximo estágio porque eu quis - opção?! - provar de tudo antes de não ter mais essa chance. Mas desde já, sei que sentirei falta.
Sentirei falta dos professores, das aulas que matei, das aulas em que dormi, das aulas que assisti, das conversas paralelas, dos bilhetinhos no meio da aula, dos amigos e até mesmo dos colegas - aqueles não muito legais. Sentirei falta de tudo o que senti e de todos que conheci nesses anos na escola. Mas, acima de tudo, sentirei falta do pôr-do-sol que era possível se ver da porta do colégio.
Quantos espetáculos não vi, sentada na calçada no fim da tarde, pensando apenas na beleza daquele que se despedia majestosamente todo dia, para nos permitir fazer amanhã o que não fizemos hoje e, assim, tornar nossa existência memorável?
Confesso que diversas vezes fiquei brava com a minha mãe por ela ter dito que ia me buscar tal hora e só ter aparecido uma hora depois. Mas, como eu sempre digo, tudo tem seu lado positivo e se minha mãe não tivesse me feito sair para esperá-la e não tivesse se atrasado, eu não teria saído e, acidentalmente, visto o sol se pôr. De fato, nada acontece por acaso.
O pôr-do-sol, muito além de bonito, é sempre inspirador. E é lindo visto dali, daquela calçada na frente do colégio.
Minha sorte é que eu fiquei de recuperação final - leu direito?! sorte! - para poder vê-lo mais algumas vezes e me despedir dele e de mais uma etapa da minha vida, assim como ele faz todo dia. Afinal, é preciso abrir mão do hoje, por mais fantástico que ele seja, para termos a oportunidade de nos descobrirmos e nos tornarmos tudo o que podemos ser, fazendo com que nossa vida seja tão digna de ser admirada e lembrada como cada pôr-do-sol.

[E é a noção de que nada dura para sempre que faz com que nos esforcemos para fazer o agora valer a pena.]

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

palíndromo

Ana.

Porque se eu pudesse escolher o meu nome, seria Ana.
Sem complicações, sem nada pra entender. Só Ana e pronto.
Certa vez alguém disse que combinaria comigo, "menina palíndromo"; aquela que vai e volta, mas nunca fica.

Não pense que voltei. Apenas vim lhe desejar "bom dia", mesmo que sejam dez da noite.

Os lábios são labirintos. E [tudo] o que eu falei, não foi sem pensar.

domingo, 3 de dezembro de 2006

pequeno?

Às vezes, quando os olhos simplesmente não querem se fixar em lugar nenhum e a mente fica por aí, procurando com o que se ocupar, você aparece.
Não sei se para me fazer companhia, não sei se para me fazer pensar de novo e de novo e de novo naquilo que eu já cansei de tentar entender - sem sucesso. Você simplesmente aparece.
Sorridente, carinhoso, cuidadoso. Um cara corajoso e inteligente se escondendo atrás de uma cara de criança (que não me convence). E que se exploda a idade!
Eu só preciso da paz que, por mais tempo que faça e ainda que você não saiba, você me traz. Por isso, nunca te apresso para você ir embora.
E não gosto de fazer com você como sempre fiz com os outros. Não gosto porque um dia os meus braços foram do tamanho exato pra eu conseguir te alcançar e te abraçar; e naquele dia, naquela hora, o tempo parou.

Ainda bem que inventaram a amizade.

sábado, 2 de dezembro de 2006

fácil de destruir; quebradiço;

Estive pensando sobre como somos frágeis.
É preciso quase perder o que se tem para se passar a dar valor àquilo. E às vezes, esse efeito de "perdi, vou cuidar", não dura muito tempo. Dura só enquanto não aparece nada mais interessante para ocupar nossa mente.
Nunca se está satisfeito com o que se tem. Se hoje não se está satisfeito, é porque se quer alguma coisa que não se tem. Se amanhã se perde tudo o que se tinha ontem, se estará insatisfeito porque ontem você estava melhor. E se amanhã se melhorar, continuar-se-á insatisfeito pela possibilidade de ter muito mais. E é essa maldita possibilidade de ter mais que faz com que não se esteja satisfeito com o que se tem nunca.
Até quando as pessoas vão continuar "querendo tudo o que amam" e se esquecendo de "amar tudo o que têm"?
Quanto se precisa perder - ou quase perder - para se dar conta de que pequenas coisas fazem muita diferença?
E porque só se aprende à força: é ter tudo ou ter nada - para se perceber o quanto se tinha?
Somos frágeis e as coisas que nos mantêm em pé, também. Nunca se sabe por quanto tempo se terá tudo o que se tem agora e não se sabe a falta que aquilo fará. É preciso viver hoje como se fosse o último dia de sua vida - uma hora você acerta -; amar à todos, como se fosse a última vez que você pudesse fazê-lo; perceber que as coisas pequenas têm sua grandiosidade e dar valor à elas antes de perdê-las.
Porque é melhor poder olhar para trás e ficar feliz em lembrar que "eu fiz o meu melhor, eu dei o melhor [sem malícia]", do que ter apenas quilômetros de silêncio diante de si.

Ser humano tem suas delícias: somos os únicos seres racionais do planeta. Sentimos porque sabemos que sentimos. Sabemos das coisas que nos cercam e não fazemos tudo por "instinto". Mas tudo isso deixa de ser bom à partir do momento que a nossa racionalidade vira obceção pelo desejo de posse.

Ps: Esse texto faz parte das coisas que escrevo pra mim. No primeiro post disse que escrevo porque é assim que entendo as coisas: escrevendo. E passei a escrever mais depois que um certo alguém me avisou de que todas as respostas para os meus probleminhas e confusões estavam no que eu escrevia; era para que eu prestasse mais atenção em mim.
Sabemos tudo o que precisamos, mas em certos momentos, é necessário que alguém diga tudo o que sabemos para nós, para nos darmos conta daquilo.
Como eu sempre procurei observar as coisas e aprender pelas percepções alheias (quase um meio de auto-preservação), eu resolvi fazer esse blog também por isso: para colocar as minhas percepções aqui e "doá-las" aos que que também aprendem observando o erro dos outros.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

velha do barranco

Accept certain inalienable truths: prices will rise, politicians will philander, you too will get old. And when you do, you'll fantasize that when you were young, prices were reasonable, politicians were noble and children respected their elders.
Respect your elders.
Sabe, eu fui ao hospital visitar minha avó. Ela quebrou o fêmur [ui!] e minha mãe e tias têm se revezado para cuidar dela. Fomos eu, minha irmã e minha mãe; elas - irmã e mãe - discutindo em tom brincalhão de conversa pra ver quem ficaria lá de noite, para ajudá-la; eu, só ouvindo. Além de não querer ficar lá, tinha algumas coisas pra fazer em casa. Mas fui visitá-la.
Minha avó tem 73 anos. Cinco filhas, mais um filho adotado. Meu avó morreu quando minha mãe, a filha mais nova, tinha sete anos. Família grande e de interior, nada foi fácil para ela. Mas ela nunca desistiu.
Agora, minha mãe e tias, que estudaram mais que a minha avó, têm uma situação de vida melhor do que tiveram na infância e eu vejo nitidamente o esforço delas para dar à mim, minhas irmãs e meus primos, uma vida melhor do que elas mesmas tiveram.
Mas às vezes me esqueço de que nada acontece por acaso [uma das minhas verdades incontestáveis] e que se tudo não tivesse acontecido da maneira que aconteceu, talvez eu não tivesse tanto sorte quanto - devo reconhecer - que tenho.
E só lá, no hospital, olhando para minha avó na cama, é que eu me lembrei de pensar nisso. Em como ela é valente e exemplo de vida. Só lá eu me lembrei de jogar fora aquela idéia esdrúxula que, - e por mais que eu diga que "não, não era isso" - creio, sempre estar por trás dos meus atos: a idéia de que ser jovem é bom e achar que eu vou ser jovem pra sempre e, por isso, às vezes ser impaciente com a minha avó.
Só lá eu me dei conta de que até agora eu fiz tudo errado. Só lá eu percebi o quanto eu me lamentaria se de repente ela fosse embora e eu não tivesse sido legal com ela como eu sou com meus amigos. Só lá eu percebi que sou idiota. Jovem e idiota.

Mas nunca é tarde para mudar. Ela pediu que eu ficasse lá com ela, junto com a minha mãe, e eu não hesitei. Fiquei lá cuidando dela o quanto pude, da melhor maneira que pude, com os melhores e mais felizes pensamentos que tinha e rezando pra ela melhorar logo, pra eu poder cuidar dela por zelo e não por necessidade - seria melhor assim.
Fiz o meu melhor até eu começar a passar mal de madrugada... Mas o que vale é a intenção. E só aquele tempo em que estive ali, cuidando dela e me dando conta de tudo isso, foi mais do que valioso. Foi necessário.
Eu estava precisando de um chacoalhão.
Pra me dar conta de que eu estava sendo idiota, egoísta e cega - jovem demais, praticamente uma criança. Mas nunca é tarde para mudar.

[Te amo, vó.]

Ps: Antes de ir embora, me sinto na obrigação de explicar o título do post; para não parecer grosseira.
Minha avó morava numa casinha solitária que ficava no alto de um barranco e "velha do barranco" foi o apelido delicado e carinhoso que meus primos deram à ela. Meus primos.

Pronto, é isso.